Pular para o conteúdo principal
Vitor Angelo Ontem às 10:52 · São Paulo · Fiquei muito intrigado com a lógica dos detratores dos críticos da vitória da Beija-Flor. "Como vocês são hipócritas em criticar o patrocínio da Guiné Equatorial, se todas as escolas de samba sempre são financiadas por bandidos", brandavam como falsos guardiões da moral. Desenhou-se então o microcosmo da discussão da corrupção no Brasil, "ela sempre existiu, porque estão indignados bem agora". Não consigo me encaixar em nenhum destes discursos do conformismo. Primeiro, pelo estágio civilizatório da sociedade brasileira (independente de conotações partidárias) se encontra hoje e a outra pela lógica do discurso comparativo, "não é porque o Sarney nunca foi preso, que não me é permitido indignar-me com o que está acontecendo na Petrobrás". Por fim, e muito importante, é pelo visível, é quando se passa a linha da tolerância, quando se testa o limite (vamos ver até onde eles aceitam a corrupção, vamos roubar um pouco mais). Sim, bicheiros já desfilaram na avenida quando eram procurados pela polícia. Sim, já homenageamos Getúlio Vargas, seguindo a lógica de um colega da Folha que disse que ele era um ditador (sim, ele foi, mas mais que isto, ele foi um estadista, mas fiquemos com o exemplo de ditador). Porém, até então não tínhamos exaltado o crime organizado, desfilado a exuberância de uma ditadura, sabido dos valores pagos, das relações deste dinheiro com as empreiteiras (dizem - o Globo - que muitas delas envolvidas no Lava-Jato). Beija-Flor deu um passo além, atravessou uma fronteira que até então era aceitável (não que muita gente aceitasse ou achasse correto isto, mas era socialmente aceitável). Meu querido Joao Luiz Vieira escreveu: "A propósito de dinheiro de contravenção e verba de ditador em escolas de samba: jura que dinheiro que vem de traficante, que o é porque o Estado decidiu, é tão sujo quanto o de um Estado que não oferece condições para uma vida decente, mesmo sendo rico em petróleo?". Enfim, a Beija-Flor tornou visível o que até então era invisível ou fazia-se de. E a escola acabar sendo campeã é tão sintomático de tudo o que vivemos no Brasil de hoje , assim como as vaias (inéditas) que recebeu.
Postagens mais visitadas deste blog
Comentários