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John Authers



03/11/2007
Aposta em mercados emergentes mandou a razão para o túmulo

John Authers

As pessoas fazem coisas estranhas nesta época do ano. Na quarta-feira, crianças na América do Norte e na Europa se vestiram de bruxas e fantasmas e foram de porta em porta pedir doces.

Na segunda-feira, pessoas por todo o Reino Unido se reunirão em torno de fogueiras, onde queimarão imagens de Guy Fawkes, uma figura do século 17.

Lembre destes exemplos quando considerar o comportamento bizarro em parte da América Latina na sexta-feira, quando famílias realizaram festas durante a noite em cemitérios para celebrar o Dia de Finados.

A América Latina também fornece aquele que talvez seja um grande exemplo de comportamento bizarro por parte de investidores nas últimas semanas. Mas tais investidores não são latino-americanos -eles vêm de países onde as pessoas praticam o "doces ou travessuras".

Eu notei anteriormente que a decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de meados de agosto de reduzir sua taxa de desconto em resposta ao aprofundamento da crise nos mercados de dinheiro levou investidores a colocarem seu dinheiro em mercados emergentes.

Era uma aposta dupla. Primeiro, eles apostaram que o dinheiro mais barato do Fed seria suficiente para conter a crise, que começou com problemas no setor imobiliário americano.

Segundo, eles pensaram que os beneficiários não intencionais da liquidez adicional seriam os mercados emergentes, que eles acreditam apresentar melhores perspectivas de crescimento e que não serão afetados diretamente pela crise.

Há um modelo para tudo isto na crise do gerenciamento de capital de longo prazo de 1998, quando cortes emergenciais nas taxas de juros pelo Fed levaram à bolha nas ações de tecnologia e Internet -que na época os investidores acreditavam fortemente que apresentariam crescimento de longo prazo quanto hoje acreditam nos mercados emergentes.

Pode ser injusto chamar o que vem acontecendo nos mercados emergentes como "bolha". Mas os preços deixaram de ser racionais.

Isto é mais claro no Brasil. Ele se beneficia do fato de ser um dos quatro "Brics" (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China) identificados pela Goldman Sachs há alguns anos como os motores de crescimento do mundo. Isto ajuda a atrair dinheiro.

Ele é visto, de forma acertada, como um dos principais beneficiários do aumento nos preços dos commodities. Basicamente, o crescimento industrial chinês cria a demanda, que os metais e produtos agrícolas brasileiros atendem.

O Brasil, como outros mercados emergentes, também se beneficia de uma desvalorização histórica. O país sofreu uma crise cambial em 1999 e desde então, até a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente em 2002, seu índice Bovespa perdeu quase 80% em termos de dólares. As pessoas temiam que Lula fosse um esquerdista demagogo.

Lula, como agora sabemos, é um pragmático. As vendas que ele inspirou se transformaram em uma grande oportunidade de compra. A certa altura em 2002, a relação preço/lucro do índice Datastream para o Brasil era nove. A p/l na S&P 500 na época era 45,6.

Cinco anos de mercado em alta depois, o Brasil apresenta valorização de 1.600% em termos de dólares, e o valor de oportunidade desapareceu. O Brasil agora negocia quase no mesmo p/l da S&P 500: 17,8.

Não apenas o argumento do valor se foi. A força dos preços dos metais para fins industriais -outra base do argumento para investir lá- agora também está em dúvida. O índice para metais para fins industriais Dow Jones-AIG atingiu o pico anteriormente neste ano. Ele subiu 5% desde o corte de juros do Fed em 16 de agosto, mas ainda está 20% abaixo de seu pico.

Adicione a isto taxas de juros acima de 11%, preocupações com a inflação e as previsões mais otimistas não vêem crescimento da economia em muito mais que 5%. O Brasil não é a China, que está crescendo a mais de 11%.

Visto neste contexto, os mercados brasileiros desde o corte de desconto pelo Fed em agosto parecem tão racionais quanto uma festa no cemitério.

A Cvrd, a maior produtora de minério de ferro do Brasil e elemento clássico no mercado global de commodities, apresenta alta de 91% desde 16 de agosto. A Bovespa apresenta alta de 33,4% desde então, mas em termos de dólares sua alta é de 62,9%, graças à valorização do real frente ao dólar.

Os brasileiros apontam que toda esta atividade é causada por dinheiro estrangeiro. Ninguém consegue resolver como usar a enxurrada de afluxo de capital.

A própria Bovespa flutuou na semana passada, se tornando a primeira bolsa de valores listada na América Latina. Sua capitalização de mercado, após uma forte estréia, é atualmente de cerca de US$ 13 bilhões. Em comparação, a Nasdaq vale apenas US$ 5,2 bilhões.

Os negócios na Bovespa contam sua própria história. O volume diário no ano passado foi em média de R$ 2,5 bilhões (US$ 1,4 bi). Neste ano, a média é de cerca de R$ 4,5 bi. Nas últimas semanas, está próxima de R$ 8 bi.

Há todos estes sinais claros de que algo irracional está em andamento. Apesar de toda sua perspectiva positiva a longo prazo, nada no Brasil em si pode justificar a fé que os estrangeiros estão depositando nele.

Em vez disso, eles estão fazendo uma aposta dupla sobre o efeito do dinheiro mais barato do Fed. Mas tal aposta parece ruim. O Fed sinalizou nesta semana que poderão não realizar mais cortes. As ações financeiras caíram, em meio ao crescente temor com a saúde financeira das seguradoras de crédito, que suportarão o impacto dos calotes, e dos grandes bancos, que já sofreram depreciação.

Se o setor financeiro do mundo desenvolvido continuar com aparência tão feia, espere uma corrida para as saídas em países como o Brasil.

Tradução: George El Khouri Andolfato
Visite o site do Financial Times

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