Mais um dia de vergonha nacional
Não está dando para acompanhar o que acontece em Brasília, sob a ameaça de passar mal do estômago
O PAÍS deveria estar em festa: segundo o senador Renan Calheiros, venceu a democracia. Mas não foi isso que se viu no fim da tarde de quarta-feira nas ruas, dos porteiros dos edifícios aos garçons reunidos em frente aos restaurantes em que trabalham. Só se ouvia "que vergonha", "nunca mais eu voto", e por aí vai.
Fico imaginando o senador Renan Calheiros, depois de ir beijar as mãos de Roseana Sarney e de seu pai, o imortal José Sarney, chegando ao "recôndito do seu lar", acolhido por uma orgulhosa d. Veronica, que deve achá-lo um herói. Renan deve ter olhado no fundo dos seus olhos dizendo que devia à sua compreensão, à sua solidariedade, enfim, a ela, e só a ela, a vitória que o consagrou.
Isso com a mesa posta, coberta de acepipes vindos das Alagoas para celebrar o grande dia. Deve ter sido lindo, e d. Verônica merecia o título de a esposa do ano, como foi d. Nair, mulher de Garrincha, lembram?
Enquanto isso, Lula, inocente, passeava de carruagem na Escandinávia; será que o presidente não aprendeu nada, nos países onde esteve na semana que passou? Que neles a saúde e a educação funcionam porque os políticos não mentem, não fazem conchavos, não roubam, porque lá não há corrupção? Não, ele só pensa em botar um bom companheiro no seu lugar, para poder continuar alimentando sua vaidade que não tem tamanho.
Num país do tamanho do Brasil, com tão pouca gente politizada, quantos entenderam o que houve quarta-feira no Senado? Como entender a manobra das abstenções, de senadores que haviam declarado seu voto na véspera? E alguém pode admitir que um senador, um só, não tivesse opinião formada sobre a falta de decoro de Calheiros, mesmo que fosse uma opinião equivocada? Um homem sem opinião não poderia jamais ser senador da República. Pois foram seis. Seis.
Teve lances cômicos: a sessão, que era para ser secreta, secretíssima, e as televisões dando, de hora em hora, notícias do que estava acontecendo no recinto sagrado do Senado; os biscoitinhos do lanche dos senadores sendo negados aos 13 deputados que estavam observando a sessão, isso depois do pugilato que foi para que eles conseguissem entrar, com a permissão do Supremo. Uma baixaria sem nome. Um nojo, essa política; um nojo, certos políticos.
Essa semana foi um vexame total, e nesse quesito o Rio de Janeiro brilhou: houve o trem metralhado pelos traficantes, que obrigou os ministros a se atirar no chão para não serem feridos (há quem diga que o governador Sergio Cabral não embarcou porque estava avisado do que ia acontecer). E houve também a notícia de que César Maia poderá se aliar a Garotinho com vistas à eleição para a Prefeitura do Rio, e mais: a ameaça do governador renunciar a seu mandato, deixando Pezão, seu vice, governando o Estado, para se candidatar à prefeitura.
Ninguém merece.
Não está dando para acompanhar o que acontece em Brasília, sob a ameaça de passar mal do estômago. Em quantos políticos se pode confiar? Dez, 15? Mas se são quase 600 deputados e 81 senadores, como é que se faz?
Quando se pensa que a falta de vergonha chegou ao fundo do poço, vem outro fato pior que nos faz esquecer dos outros, até porque são tantos que não há memória para guardar todos.
Para preservar a população, uma sugestão: que a senadora Ideli Salvati só possa sair de casa de focinheira, porque ela e um pitbull são iguais.
Até fisicamente.
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