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vive LA FRANCE




25/01/2008
2008, o anunciado ano sombrio de Nicolas Sarkozy

Claire Guélaud

E se 2008 fosse para Nicolas Sarkozy o "annus horribilis" (ano horrível), em que a realidade se manifestará para o presidente sob a forma de resultados decepcionantes ou ruins nas eleições municipais, e de uma economia que vai se atolando? Neste começo de ano, em que não se consegue enxergar o fim da crise financeira, o risco de uma recessão vem ameaçando os Estados Unidos e o dinamismo da zona do euro está definhando, as chances da França escapar do desaquecimento econômico são praticamente nulas.

"A economia francesa não é uma ilha", reconhece o primeiro-ministro François Fillon numa entrevista ao "Financial Times" publicada na quinta-feira, 24 de janeiro. Mas ele a julga "menos exposta do que as outras a esta tormenta" e aposta num crescimento próximo de 2% neste ano, como em 2007. O primeiro-ministro, que confirma a sua vontade de congelar os gastos do setor público por toda a duração do mandato presidencial (cinco anos), poderia manter as promessas de sanear as finanças públicas.

Menos otimistas, uma grande parte dos estudiosos da conjuntura está prevendo uma progressão do produto interno bruto (PIB) de 1,5% para 1,7%, além de uma ligeira deterioração do mercado do trabalho. Com um crescimento tão reduzido, a França volta a correr risco, como em 2003, de se tornar alvo de processo da União Européia por causa de déficit excessivo (superior a 3% do PIB), no momento em que ela se prepara para assumir, em 1º de julho, a presidência rotativa da UE. O efeito provocado por tal situação não seria dos melhores.

"O desaquecimento da economia francesa é inexorável", analisa Patrick Artus, o diretor dos estudos econômicos do fundo de investimentos Natixis. "O nosso comércio externo, que vem acusando déficits de cerca de 5 bilhões de euros (cerca de R$ 13 bilhões) todo mês, segue enfraquecendo o crescimento do país. Enquanto isso, o consumo das famílias segue incentivando as nossas importações. O euro corre risco de valorizar-se mais ainda e de agravar os nossos problemas estruturais".

Embora isso venha ocorrendo de uma maneira menos acentuada do que nos Estados Unidos, a reversão do ciclo do setor imobiliário se faz sentir no Reino Unido, na Espanha e, mais recentemente, na França. Na Alemanha, o consumo das famílias vem apresentando sinais de uma recaída, o que não é um bom sinal, acrescenta o economista. Pior ainda, a França, diferentemente do que ocorre com um bom número de seus parceiros, não dispõe de margens orçamentárias - os seus cofres estão "vazios" - para sustentar a economia.

Seguindo esta evolução, que tem como pano de fundo uma retomada da inflação e uma moderação persistente dos salários, 2008 não será um ano de grande pompa para o poder aquisitivo (+ 3,3% em 2007; uma previsão de + 1,2% para meados de 2008). Nicolas Sarkozy não convenceu ninguém neste terreno e o conjunto da sua política econômica está sendo julgado com severidade: "58% dos franceses passaram a considerá-la como ruim, enquanto 39% a avaliam como boa. Isso configura proporções que se aproximam daquelas de 2003", explica Jérôme Sainte-Marie (do instituto de pesquisas BVA).

Por fim, diferentemente do que vem fazendo o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos, o Banco Central europeu não parece estar disposto a concentrar forças em favor do apoio ao crescimento. "Vale lembrar que o pior - uma recessão mundial como em 1929 - nunca pode ser previsto com toda certeza. Mas, enquanto a resposta da Fed, que reduziu taxa para evitar a falência de atores financeiros, me parece adaptada, aquela do BCE, por sua vez, que insiste em manter a sua política (de prevenir a inflação), não esta adequada", analisa Xavier Timbeau, o diretor do Observatório Francês das Conjunturas Econômicas (OFCE).

Este ambiente deteriorado só pode contribuir para esfriar as esperanças econômicas e sociais dos franceses, que, por certo tempo, foram renovadas pela eleição presidencial, segundo Brice Teinturier (do instituto de pesquisas TNS Sofrès). A conjuntura atual poderia exercer uma influência negativa no pleito municipal dos dias 9 e 16 de março. "Já faz dois meses, em razão da forte redução da popularidade de Nicolas Sarkozy, a possibilidade de haver uma votação que sancione a sua política, como aconteceu nas eleições municipais de 1983 ou nas regionais de 2004, existe", analisa Brice Teinturier, que ainda assim, não considera esta hipótese como a mais provável.

Preso às suas promessas (um pacote fiscal de 14 bilhões de euros - cerca de R$ 37 bilhões - e um crescimento menor), o presidente encontra-se numa situação delicada para este pleito. "2008 será um ano ruim. Para o poder executivo, a única atitude sensata consiste em manter-se concentrado nos objetivos de longo prazo e numa política da oferta (promover o crescimento das empresas; desenvolver a pesquisa científica, etc.)", defende Patrick Artus.

A este respeito, as 316 propostas do relatório da Comissão Attali (encarregada por Sarkozy de apresentar recomendações e propostas visando a estimular o crescimento econômico), que o presidente considerou "bastante sensatas" - exceto as que recomendam a supressão dos departamentos, a extinção do princípio de precaução e a reforma das farmácias -, chegam na hora certa. Nesse sentido, um seminário governamental, marcado para fevereiro, tem por missão "deslanchar e coordenar as prioridades".

Contudo, conforme assinala Jérôme Sainte-Marie, o relatório Attali pode revelar-se politicamente "muito perigoso para o executivo": "Ao levantar uma tão grande quantidade de questões, ele inevitavelmente irá deixar um bom número de categorias sociais preocupadas". A onda de protestos que ele já vem suscitando confirma a análise.

Tradução: Jean-Yves de Neufville

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