A vida noturna na Europa está ameaçada
Reinier Kist
A vida noturna da Europa está ameaçada e Amsterdã não é exceção. Horários de funcionamento restritos, alta dos aluguéis e maior policiamento estão todos contribuindo para estragar o espírito de festa na capital holandesa. Mas alguns festeiro estão contra-atacando.
A renomada vida noturna de Paris está à beira da morte, dizem muitos moradores locais. No último domingo, profissionais do setor hoteleiro e donos de clubes noturnos na capital francesa soaram o alarme a respeito da queda da qualidade da vida noturna parisiense, ao entregarem uma petição ao prefeito. Os representantes do público festeiro da cidade reuniram 14 mil assinaturas para apoiar seu apelo aos demais parisienses, particularmente os representantes da lei, para serem mais tolerantes com o barulho que a agitação noturna inevitavelmente provoca.
Turista fuma cigarro de maconha em café de Amsterdã; onde vida noturna está perdendo fôlego
O jornal francês “Le Monde” chegou até mesmo a apelidar Paris de “Capital Europeia do Tédio”.
Paris não é a única cidade europeia onde as pessoas estão preocupadas com a vida noturna. No verão europeu de 2009, um grupo popular chamado Ai!Amsterdam, um trocadilho com o slogan da capital holandesa “I Amsterdam” (Eu Amsterdã), produziu um manifesto contendo uma ladainha de queixas a respeito da política da cidade em relação a bares e clubes. Nos últimos anos, bares foram multados porque seus clientes estavam bebendo em pé na varanda, em vez de sentados, como manda a lei. Os horários de funcionamento estão sendo cada vez mais restringidos, diz o grupo. Uma proibição a aquecimento na varanda também está sendo considerada. “Imagine o que aconteceria se tivéssemos algum prazer!” pondera sarcasticamente o manifesto.
Distrito da luz vermelha
O Ai!Amsterdam também pergunta sobre o que será do distrito da luz vermelha de Amsterdã, que recentemente se tornou alvo de uma repressão do governo. As autoridades locais estão tentando redesenvolver as ruas históricas e reduzir o número de prostitutas que trabalham lá. O Ai!Amsterdam teme que a área se transforme em um distrito comercial elegante deserto depois das 21h. O grupo citou todas as medidas contra festas adotadas pela prefeitura nos últimos anos e perguntou: “O que está acontecendo? Quem pediu isso?”
Mas as pessoas que lutam pelo seu direito de festejar parecem estar perdendo a batalha em cidades como Paris e Amsterdã. Segundo a socióloga urbana Anne Hemker, a vida noturna urbana se tornou vítima do sucesso da cidade. “As grandes cidades europeias são utilizadas muito intensamente para propósitos altamente diversos. As ruas estreitas, medievais, são frequentemente populares tanto entre os moradores quanto entre festeiros e turistas. É claro, eles não se misturam bem”, diz Hemker.
Hemker é membro do Night Watch (vigia noturno), uma iniciativa dos cidadãos visando devolver à vida noturna de Amsterdã parte de seu brilho. A organização pede regulamentação mais branda e horários de funcionamento mais flexíveis para bares e boates. Hemker considera a ação das prefeituras de assumir o controle da vida noturna como uma tentativa de impor civilização em partes da sociedade que considera carentes dela. Ela argumenta que, por toda a Europa, as cidades estão enfrentando os mesmos problemas: jovens vagabundeando, excesso de bebida, ameaças de violência, vandalismo e pessoas urinando em público. Essas questões levam inevitavelmente os moradores e seus governos a pressionarem por uma conduta mais civilizada, diz Hemker.
Atraindo a classe criativa
A geógrafa urbana Irina van Aslst também acha que as autoridades locais por toda a Europa estão aumentando seu controle sobre os distritos de vida noturna. “Londres, por exemplo, possui milhares de câmeras de vigilância atentas aos seus festeiros”, diz Van Aalst. Um dos motivos para a vigilância reforçada, ela acredita, é o papel chave da vida noturna na construção da imagem urbana.
Van Aalst publicou recentemente seus pensamentos sobre a “nova tendência” que transformou teatros, restaurantes, bares e boates em “um elemento cada vez mais importante na concorrência internacional entre diferentes cidades”. Uma vida noturna agitada pode atrair membros da chamada “classe criativa”, os moradores mais cobiçados pelos planejadores urbanos de hoje. Segundo o paradigma atualmente predominante, representado pelo trabalho do sociólogo americano Richard Florida, estas pessoas são chave para o desenvolvimento das cidades modernas.
Como a vida noturna se tornou tão crucial para as cidades, as prefeituras se sentem mais inclinadas a controlar seus aspectos negativos. Para estimular a economia do horário noturno, qualquer falta de segurança percebida precisa ser tratada, diz Van Aalst.
Na Holanda, isso significa que a vida noturna agora é governada por políticas de segurança rígidas, que geralmente resultam em uma maior presença das autoridades, políticas rígidas nas portas e câmeras de vigilância. “A manutenção rígida da ordem pública pode criar um ambiente estéril, que afasta muitos jovens”, argumenta Van Aalst. Uma forte presença policial, por exemplo, pode ser ameaçadora em vez de tranquilizadora.
Uma batalha perdida?
Enquanto transcorre a batalha pela noite urbana, alguns temem que o resultado já esteja decidido.
Dick Koopman, um organizador de festas que co-fundou a Night Watch, também teme o pior para a vida noturna de Amsterdã. “A cidade não melhorou nada nos últimos anos. Amsterdã está simplesmente se tornando cara demais. Os aluguéis estão me enlouquecendo. Apenas as grandes empresas podem arcar com estes preços”, ele disse.
Koopman agora passa metade de seu tempo morando em Berlim. “Em frente a onde eu moro há alguns prédios vazios onde qualquer um pode abrir um bar ou uma boate.” Segundo Koopman, em Berlim o “espírito de Amsterdã nos anos 80 ainda está vivo. Vale tudo. Graças a um importante commodity: abundância de espaço”.
Tradução: George El Khouri Andolfato
Reinier Kist
A vida noturna da Europa está ameaçada e Amsterdã não é exceção. Horários de funcionamento restritos, alta dos aluguéis e maior policiamento estão todos contribuindo para estragar o espírito de festa na capital holandesa. Mas alguns festeiro estão contra-atacando.
A renomada vida noturna de Paris está à beira da morte, dizem muitos moradores locais. No último domingo, profissionais do setor hoteleiro e donos de clubes noturnos na capital francesa soaram o alarme a respeito da queda da qualidade da vida noturna parisiense, ao entregarem uma petição ao prefeito. Os representantes do público festeiro da cidade reuniram 14 mil assinaturas para apoiar seu apelo aos demais parisienses, particularmente os representantes da lei, para serem mais tolerantes com o barulho que a agitação noturna inevitavelmente provoca.
Turista fuma cigarro de maconha em café de Amsterdã; onde vida noturna está perdendo fôlego
O jornal francês “Le Monde” chegou até mesmo a apelidar Paris de “Capital Europeia do Tédio”.
Paris não é a única cidade europeia onde as pessoas estão preocupadas com a vida noturna. No verão europeu de 2009, um grupo popular chamado Ai!Amsterdam, um trocadilho com o slogan da capital holandesa “I Amsterdam” (Eu Amsterdã), produziu um manifesto contendo uma ladainha de queixas a respeito da política da cidade em relação a bares e clubes. Nos últimos anos, bares foram multados porque seus clientes estavam bebendo em pé na varanda, em vez de sentados, como manda a lei. Os horários de funcionamento estão sendo cada vez mais restringidos, diz o grupo. Uma proibição a aquecimento na varanda também está sendo considerada. “Imagine o que aconteceria se tivéssemos algum prazer!” pondera sarcasticamente o manifesto.
Distrito da luz vermelha
O Ai!Amsterdam também pergunta sobre o que será do distrito da luz vermelha de Amsterdã, que recentemente se tornou alvo de uma repressão do governo. As autoridades locais estão tentando redesenvolver as ruas históricas e reduzir o número de prostitutas que trabalham lá. O Ai!Amsterdam teme que a área se transforme em um distrito comercial elegante deserto depois das 21h. O grupo citou todas as medidas contra festas adotadas pela prefeitura nos últimos anos e perguntou: “O que está acontecendo? Quem pediu isso?”
Mas as pessoas que lutam pelo seu direito de festejar parecem estar perdendo a batalha em cidades como Paris e Amsterdã. Segundo a socióloga urbana Anne Hemker, a vida noturna urbana se tornou vítima do sucesso da cidade. “As grandes cidades europeias são utilizadas muito intensamente para propósitos altamente diversos. As ruas estreitas, medievais, são frequentemente populares tanto entre os moradores quanto entre festeiros e turistas. É claro, eles não se misturam bem”, diz Hemker.
Hemker é membro do Night Watch (vigia noturno), uma iniciativa dos cidadãos visando devolver à vida noturna de Amsterdã parte de seu brilho. A organização pede regulamentação mais branda e horários de funcionamento mais flexíveis para bares e boates. Hemker considera a ação das prefeituras de assumir o controle da vida noturna como uma tentativa de impor civilização em partes da sociedade que considera carentes dela. Ela argumenta que, por toda a Europa, as cidades estão enfrentando os mesmos problemas: jovens vagabundeando, excesso de bebida, ameaças de violência, vandalismo e pessoas urinando em público. Essas questões levam inevitavelmente os moradores e seus governos a pressionarem por uma conduta mais civilizada, diz Hemker.
Atraindo a classe criativa
A geógrafa urbana Irina van Aslst também acha que as autoridades locais por toda a Europa estão aumentando seu controle sobre os distritos de vida noturna. “Londres, por exemplo, possui milhares de câmeras de vigilância atentas aos seus festeiros”, diz Van Aalst. Um dos motivos para a vigilância reforçada, ela acredita, é o papel chave da vida noturna na construção da imagem urbana.
Van Aalst publicou recentemente seus pensamentos sobre a “nova tendência” que transformou teatros, restaurantes, bares e boates em “um elemento cada vez mais importante na concorrência internacional entre diferentes cidades”. Uma vida noturna agitada pode atrair membros da chamada “classe criativa”, os moradores mais cobiçados pelos planejadores urbanos de hoje. Segundo o paradigma atualmente predominante, representado pelo trabalho do sociólogo americano Richard Florida, estas pessoas são chave para o desenvolvimento das cidades modernas.
Como a vida noturna se tornou tão crucial para as cidades, as prefeituras se sentem mais inclinadas a controlar seus aspectos negativos. Para estimular a economia do horário noturno, qualquer falta de segurança percebida precisa ser tratada, diz Van Aalst.
Na Holanda, isso significa que a vida noturna agora é governada por políticas de segurança rígidas, que geralmente resultam em uma maior presença das autoridades, políticas rígidas nas portas e câmeras de vigilância. “A manutenção rígida da ordem pública pode criar um ambiente estéril, que afasta muitos jovens”, argumenta Van Aalst. Uma forte presença policial, por exemplo, pode ser ameaçadora em vez de tranquilizadora.
Uma batalha perdida?
Enquanto transcorre a batalha pela noite urbana, alguns temem que o resultado já esteja decidido.
Dick Koopman, um organizador de festas que co-fundou a Night Watch, também teme o pior para a vida noturna de Amsterdã. “A cidade não melhorou nada nos últimos anos. Amsterdã está simplesmente se tornando cara demais. Os aluguéis estão me enlouquecendo. Apenas as grandes empresas podem arcar com estes preços”, ele disse.
Koopman agora passa metade de seu tempo morando em Berlim. “Em frente a onde eu moro há alguns prédios vazios onde qualquer um pode abrir um bar ou uma boate.” Segundo Koopman, em Berlim o “espírito de Amsterdã nos anos 80 ainda está vivo. Vale tudo. Graças a um importante commodity: abundância de espaço”.
Tradução: George El Khouri Andolfato
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