"Dinha do Acarajé", soberana na Bahia
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Eleger o melhor acarajé da Bahia é tarefa temerária e de implicações políticas, passível de comoção regional. Mas dos que, cientes do risco, se aventuraram a apontar a soberana entre as baianas do quitute, não foram poucos os que levaram o indicador ao tabuleiro de Lindinalva de Assis, a "Dinha do Acarajé".
Conta-se no boêmio Rio Vermelho que a primeira a fixar o tabuleiro por ali, e em frente à igreja matriz, foi sua avó Ubaldina, em 1944 -no mesmo largo de Santana onde filha e neta reinariam. A mãe morreu, a avó adoeceu. E Dinha começou a fazer, ela mesma, aos sete anos, as bolinhas de feijão fradinho, fritas no dendê, que fervia nas tardes de Salvador -o cheiro levou e o boato consagrou "o melhor acarajé da Bahia".
O burburinho local, entre verdade e onírica digestão, diz que, "de Dercy Gonçalves a Jorge Amado e ACM", todo mundo passou por ali para provar o dito-cujo. Que, a partir dos anos 80, trouxe polêmica para o largo onde o acarajé de Cira e Regina desandaram a fritar. Na TV, foi "a guerra das baianas". Para muitos, Dinha ainda reinava.
Desde 1999 os filhos tocam um restaurante, com mesa e tudo, em frente ao tabuleiro. E agradam aos turistas que a viam mundo afora, desfilando como ícone da cultura baiana. Ia sempre com o vestido de renda branca, as contas de orixás escorrendo pelo pescoço e os fartos lábios pintados e abertos em um sorriso todo branco -que só se cerrou na sexta, quando ela morreu de parada cardiorrespiratória, aos 56.
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