Pagamos o preço do descaso urbanístico
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu o ritual que se espera de alguém em sua posição. Visitou áreas devastadas por enchentes em Santa Catarina e liberou recursos com alguma presteza. É injusta a crítica de que Lula demorou a agir.
De fato, ele tinha compromissos de estado, como a visita do presidente da Rússia, Dmitri Medvedev. E, na manhã da última segunda-feira, antes de começar a reunião ministerial, Lula orientou ministros a agir rapidamente, o que foi feito.
De imediato, o importante é socorrer as vítimas. É preciso que a ajuda chegue rapidamente a quem necessita. Será necessário um acompanhamento gerencial rigoroso para avaliar se os recursos realmente chegarão lá na ponta, como se costuma dizer na burocracia.
E as causas de fundo? Quais são?
Houve um rápido processo de urbanização do Brasil no século passado, sobretudo na segunda metade. As cidades cresceram rapidamente sem planejamento urbanístico, visto como frescura por administradores obreiros.
São Paulo tinha as suas marginais que inundavam todos os anos, problema que diminuiu bastante faz pouco tempo. O Rio padece a cada verão. As moradias em encostas em Belo Horizonte também. Até as tesourinhas do Plano Piloto de Brasília, aquelas passagens de nível que parecem autorama, são armadilhas em tempos de chuva --isso numa cidade com menos de 50 anos e que foi supostamente bem planejada. Todas as grandes cidades brasileiras sofrem com bueiros entupidos --e boa parte dessa culpa é de quem joga lixo na rede pluvial. Ligações clandestinas na rede de esgoto são uma mania nacional, não só dos pobres. Em Brasília, há construções de classe média alta jogando esgoto no Lago Paranoá.
O que se vê agora em Santa Catarina é uma repetição do que aconteceu no início dos anos 80. Passaram-se 30 anos, tempo suficiente para um planejamento urbanístico conseqüente produzir resultado.
A gente sabe que o cobertor é curto. Há uma briga danada pelos recursos dos orçamentos públicos. Num país com as carências do Brasil, o sujeito que tem um barracão no alto do morro está bem melhor do que aquele que dorme na sarjeta. Favelas e moradias irregulares viraram uma triste realidade.
Há ainda a corrupção, um problema endêmico no Brasil, mas muito menor hoje do que foi no passado. Obviamente, existem prioridades sociais, como melhorar nossos sistemas educacional e de saúde.
Dito isso, parece óbvio que o planejamento urbanístico deva virar uma prioridade dos administradores nos níveis federal, estadual e municipal. A ausência desse planejamento é a principal responsável por tragédias como a de Santa Catarina. É preciso pensar o crescimento das cidades. Dentro do possível, ordenar ou minimizar a bagunça que já existe. Fiscalizar construções irregulares não só de peixinhos, mas também dos tubarões. E oferecer uma alternativa razoável para quem tem um teto na beira do precipício
Sem essas medidas, não adianta culpar o presidente, o governador, o prefeito, São Pedro e o aquecimento global. Mas adiantaria muito cobrar medidas dos três primeiros e pensar bastante antes de entupir com lixo a rede pluvial.
E-mail:kalencar@folhasp.com.br
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu o ritual que se espera de alguém em sua posição. Visitou áreas devastadas por enchentes em Santa Catarina e liberou recursos com alguma presteza. É injusta a crítica de que Lula demorou a agir.
De fato, ele tinha compromissos de estado, como a visita do presidente da Rússia, Dmitri Medvedev. E, na manhã da última segunda-feira, antes de começar a reunião ministerial, Lula orientou ministros a agir rapidamente, o que foi feito.
De imediato, o importante é socorrer as vítimas. É preciso que a ajuda chegue rapidamente a quem necessita. Será necessário um acompanhamento gerencial rigoroso para avaliar se os recursos realmente chegarão lá na ponta, como se costuma dizer na burocracia.
E as causas de fundo? Quais são?
Houve um rápido processo de urbanização do Brasil no século passado, sobretudo na segunda metade. As cidades cresceram rapidamente sem planejamento urbanístico, visto como frescura por administradores obreiros.
São Paulo tinha as suas marginais que inundavam todos os anos, problema que diminuiu bastante faz pouco tempo. O Rio padece a cada verão. As moradias em encostas em Belo Horizonte também. Até as tesourinhas do Plano Piloto de Brasília, aquelas passagens de nível que parecem autorama, são armadilhas em tempos de chuva --isso numa cidade com menos de 50 anos e que foi supostamente bem planejada. Todas as grandes cidades brasileiras sofrem com bueiros entupidos --e boa parte dessa culpa é de quem joga lixo na rede pluvial. Ligações clandestinas na rede de esgoto são uma mania nacional, não só dos pobres. Em Brasília, há construções de classe média alta jogando esgoto no Lago Paranoá.
O que se vê agora em Santa Catarina é uma repetição do que aconteceu no início dos anos 80. Passaram-se 30 anos, tempo suficiente para um planejamento urbanístico conseqüente produzir resultado.
A gente sabe que o cobertor é curto. Há uma briga danada pelos recursos dos orçamentos públicos. Num país com as carências do Brasil, o sujeito que tem um barracão no alto do morro está bem melhor do que aquele que dorme na sarjeta. Favelas e moradias irregulares viraram uma triste realidade.
Há ainda a corrupção, um problema endêmico no Brasil, mas muito menor hoje do que foi no passado. Obviamente, existem prioridades sociais, como melhorar nossos sistemas educacional e de saúde.
Dito isso, parece óbvio que o planejamento urbanístico deva virar uma prioridade dos administradores nos níveis federal, estadual e municipal. A ausência desse planejamento é a principal responsável por tragédias como a de Santa Catarina. É preciso pensar o crescimento das cidades. Dentro do possível, ordenar ou minimizar a bagunça que já existe. Fiscalizar construções irregulares não só de peixinhos, mas também dos tubarões. E oferecer uma alternativa razoável para quem tem um teto na beira do precipício
Sem essas medidas, não adianta culpar o presidente, o governador, o prefeito, São Pedro e o aquecimento global. Mas adiantaria muito cobrar medidas dos três primeiros e pensar bastante antes de entupir com lixo a rede pluvial.
E-mail:kalencar@folhasp.com.br
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