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ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
Frida busca a trilha sonora da Gucci
Estilista da grife italiana diz que a música é sua principal fonte de inspiração
Na história da moda, a Gucci ocupa um lugar excepcional.
Não apenas pela sua contribuição às roupas e ao estilo do século 20, como também pela palpitante trajetória da maison, desde a sua fundação em 1921, por Guccio Gucci.
Além da série de sucessos, a famosa grife italiana acumulou ao longo de sua história episódios emocionantes de disputas familiares, intrigas comerciais e até mesmo um crime escandaloso -o assassinato de Maurizio Gucci, em 1995, encomendado por sua ex-mulher.
A Gucci foi também motivo de um enfrentamento feroz entre os ambiciosos grupos franceses LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton e PPR (Pinault-Printemps-Redoute), atual proprietário da grife.
Toda esta história foi contada à maneira de um emocionante seriado a la "Dinastia", por Sara Gay Forden, em "Casa Gucci", livro lançado neste ano no Brasil pela editora Seoman.
Neste mês, a grife abriu em São Paulo a sua primeira loja brasileira, instalada no shopping Iguatemi, que tem participação no negócio.
São 470 m2, dedicados tanto ao prêt-à-porter feminino quanto masculino. Além da charmosa e muito cobiçada linha de bolsas e acessórios, a loja também venderá as coleções de sapatos da grife -tudo atualmente controlado pela diretora de criação da marca, a italiana Frida Giannini.
Frida construiu sua fama de durona na poderosa maison Gucci a custa de muito trabalho. Em 2006, após sucessivas promoções, a estilista ganhou o respeito dos executivos da grife e assumiu o controle criativo de todas as linhas produzidas pela marca, concentrando o mesmo poder de seu antecessor, o americano Tom Ford.
Ela entrou para a Gucci em 2002, à frente do setor de bolsas. Logo de cara decidiu vasculhar os arquivos da grife.
De lá, resgatou estampas e padronagens clássicas e as reeditou em peças que se tornaram hits nas lojas. O sucesso foi tão grande que, por volta de 2004, quando assumiu a chefia geral da Gucci acessórios, as criações de Frida respondiam por 80% do total de vendas da grife.
Em 2005, ela ganhou a direção das coleções de roupas femininas, e, finalmente, em 2006, chegou ao posto de diretora de criação de todas as linhas da Gucci.
Aos 36 anos, Frida vive em Florença com o marido, de onde controla todos os lançamentos da Gucci. É louca por cavalos e fã ardorosa do cantor inglês David Bowie. "Eu procuro inspiração em muitas áreas diferentes, mas a música sempre foi uma de minhas principais obsessões", diz ela, na entrevista a seguir, feita por e-mail.
FOLHA - A história da Gucci, desde seus primórdios, daria um filme épico, com uma trama cheia de ação, som e fúria. Que parte dessa história você prefere? Qual seria, em sua opinião, a melhor pessoa para dirigir esse suposto filme?
FRIDA GIANNINI - Em lugar de escolher uma parte da trama, acho que eu preferiria trabalhar na trilha sonora do filme.
Sou apaixonada por música e trabalho pessoalmente com a música de cada desfile. Isso é algo que eu amo, e acho que seria fascinante escolher a música para um filme. Em vez de opinar na direção, eu optaria por trabalhar com um DJ -ou quem sabe com David Bowie?
Tenho uma coleção de 8.000 discos, e seria um sonho ouvir todos eles com Bowie.
FOLHA - Como você descreveria a Gucci hoje e o lugar que ela ocupa no mundo da moda?
FRIDA - Acho que a Gucci de hoje ainda é glamurosa e continua a representar as qualidades da marca sobre a qual foi erguida. Eu me esforço para manter esse legado vivo, mas com uma interpretação moderna. Acho que essa também é a posição da Gucci no mundo da moda: uma grife de luxo que continua a defender a qualidade, o trabalho artesanal, a tradição e o carimbo "made in Italy", que sempre foram fundamentais para seu nome. Enquanto avançamos, continuamos a proteger os valores de nossa história. Continuamos a usar as mesmas fábricas para produzir as nossas peças e a dar grande ênfase às nossas raízes na Itália.
FOLHA - Tom Ford era obcecado por vender sexo, e você não é. Você tem uma obsessão própria?
FRIDA - Eu entendo que a sexualidade sempre fez parte do DNA da Gucci, mas estou reinterpretando isso numa sensualidade que não é tão declarada.
Quando eu crio, tenho consciência do aspecto da empresa ligado à necessidade de vender, mas também me concentro muito no que me inspirou na temporada. Eu procuro inspiração em muitas áreas diferentes, mas a música sempre foi uma de minhas principais obsessões. A música faz parte de mim e tende a aparecer em minhas coleções.
FOLHA - Você acha que a nova "mulher Gucci" se parece muito com você mesma?
FRIDA - Como mulher, é claro que me identifico com minhas coleções, mas eu crio para uma grife internacional e levo em conta mulheres de todos os tipos. A mulher Gucci é moderna e confiante, dotada de personalidade e intelecto. Ela é uma mulher de minha geração. É uma mulher que adora roupas e acessórios, mas que não quer ser limitada pelas roupas. Ela quer ficar bonita e se sentir bem, mas não quer ter que se preocupar demais com isso.
Em última análise, a mulher Gucci é alguém para quem é divertido criar, porque estou criando um certo estado de espírito, uma certa atitude. Isso também me dá espaço para ser muito criativa, quase ilimitada.
Se eu tivesse que criar para mim mesma o tempo todo, ficaria muito entediada.
FOLHA - A imprensa de moda dos EUA fala de um novo tipo de fashionista, a "recessionista". Como você acha que a recessão na Itália (e alguns outros países, como EUA, Japão, Rússia...) vai afetar a criação e o negócio da moda? Teremos roupas menos caras? Teremos um recuo conservador das grifes?
FRIDA - O foco da Gucci sempre foi e continuará sendo manter os seus valores fundamentais, mesmo com a economia em crise. Essas são qualidades das quais a grife não poderá abrir mão em hipótese alguma. Somos uma empresa que sempre produziu artigos que são únicos e criativos, e a criatividade, com ou sem crise, continuará a ser o fator chave do sucesso de qualquer grife de moda de luxo.
FOLHA - Você já visitou o Brasil?
Quando ouve falar no Brasil, o que lhe vem à mente? Se eu disser "moda e estilo brasileiros", o que você imagina?
FRIDA - Quando penso na moda e no estilo brasileiros, penso numa mulher forte que não tem medo de usar cores e que exala uma certa autoconfiança.
Na realidade, penso na última coleção que criei, a primavera-verão 2009. Chamada Gucci Exotica, era repleta de cores fortes -turquesa, papaia, verde-esmeralda e roxo. Havia terninhos coloridos e vestidinhos curtos e sexies, do tipo que poderia facilmente ser visto nas ruas do Brasil.
FOLHA - Você tem planos de visitar o Brasil para conhecer o mercado fashion brasileiro?
FRIDA - Eu gostaria de ir ao Brasil, mas não tenho tido tempo de viajar ultimamente, já que estou ocupada trabalhando em várias coleções. O Brasil é um país tão sedutor, com uma cultura rica... Se eu tivesse uma chance de visitar o país, gostaria de ter muito tempo para conhecer todas as atrações históricas, para que pudesse sentir o seu coração e a sua personalidade. E, é claro, eu visitaria nossa nova loja em São Paulo!
FOLHA - Em que você está trabalhando agora?
FRIDA - No momento, estou trabalhando em algumas coleções. Tenho o desfile masculino do outono-inverno 2009, em janeiro, depois o pré-outono 2009 e, então, o desfile feminino do outono-inverno 2009, em fevereiro. Esta é uma época do ano com muito trabalho, mesmo com os feriados de final de ano se aproximando.
Tradução: Clara Allain
Com Vivian Whiteman
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