SERVISSIM
SERVIÇO
SERVIÇO
SERVIÇO
Na cidade não há verdades, só opiniões. E quantas a respeito desta Bienal em São Paulo!
Ótimo, como situação artística que é, pró-voca, faz falar. E, como gostam de dizer os entendidos, está “grávida de sentidos”. E é polêmica sim. Pois polêmica não é um espetáculo de circo, mas uma saudável controvérsia, típica da vida urbana, que não pretende chegar a nenhuma conclusão definitiva. Ainda mais em se tratando de arte.
É curioso que depois de tudo o que já vimos, estudiosos da arte e palpiteiros profissionais expressem suas opiniões como se fossem verdades, e se posicionam frente à arte contemporânea como galeristas do século XIX.
É claro que toda curadoria tem propósitos e intenções artísticas. Não existe curadoria neutra, nem absoluta, nem perfeita. Há intenções assumidas nesta montagem da Bienal. Intenções artísticas, que se fossem óbvias, não gerariam tão calorosa expressão de opiniões. E não sei se o rei está nu, como disseram, mas que tinha um cara pelado ali, isto tinha.
Como todos nós sabemos, não há evolução em arte, logo, desqualificar algo porque alguém já fez coisa semelhante há cinquenta anos atrás não vale. Já imaginou se a moda pega: “pintura abstrata, de novo, mas o Kandinsky já fez isto aí há mais de cinquenta anos!”
Chocha esta Bienal não é. Se fosse não a teríamos nem notado. Opinião por opinião, tem especialista por aí que acha que ela é safada. Safada, uau! Acho que eu vou adorar! Mas safada por quê? Rola uma suruba? Tipo patati no patata, uma hora por cima outra por baixo?
Uma coisa é verdade: esta Bienal é incômoda, não é mesmo?
Eu, em minha parca e abestada ignorância, não tenho certeza o que ela é. Mas me permito indagar e, generoso que sou, compartilharei com o leitor minhas vagas e oníricas opiniões.
Ao entrar no edifício pensei: “Poxa, eu sempre acho que o melhor da Bienal é a arquitetura deste prédio”. E continuo achando.
Mas, a arquitetura costuma trazer este tipo de surpresa. Basta lembrar que o único objeto artístico exposto na Feira Internacional de Londres de 1851, sobre o qual ainda se fala, é o edifício de metal e vidro que a abrigava: o Palácio de Cristal, na época a obra mais moderna de todas.
Ah, tinha um escorregador ali, logo na entrada, parecia um destes que servem pra tirar entulho de prédio. “Nossa, como está vazio aqui dentro, que alívio!” Coisa rara, as Bienais costumam estar sempre tão entulhadas. Dá até pra pensar aqui dentro. Pra mim, tem coisa demais pra ver nesta cidade: shopping centers cheios de vitrines, avenidas lotadas de carros, condomínios apinhados de apartamentos, blogs demais, e-mails demais. Chega!
“Olha, tem o mundo explicado ali”. Que bom, até que enfim alguém – um tal de Erick Beltrán – conseguiu explicar tudo! E tem também um museuzinho ali num canto que vale por muitos. Do outro lado, tem uma sala com o mesmo filme passando em três telas com pontos de vista diferentes. Obra de uma artista de nome complicado, Eija-Liisa Ahtila. Parece chocho, mas nossa, imaginei que a vaca estava no meio da sala, que viagem! Tive a impressão que a imagem tinha se transformado em uma coisa tridimensional. Bem legal.
Madeira, tipografia, vídeo. Uma Bienal assim simplória. Tanto que dá vontade de fazer arte também. Fiquei afim de fazer coisas, bolar uns trecos, imprimir umas imagens, desenhar, fazer uns filmes. Eu, que costumo sair tão cansado de Bienais e mega-exposições, fiquei surpreso com a minha disposição.
Animado, pensei: “como o Mondrian, eu continuo aguardando a Bienal do vazio total, aquela do nada”. E, neste intermezzo, fiquei a imaginar o sorriso jocoso de Duchamp, descendo de escorregador, depois de voar 14 horas para ver a Bienal de São Paulo.
Cheguei em casa, ainda com esta Bienal “safada” na minha cabeça, olhei pra minha mulher e disse: minha musa, antropofagia, canibalismo, now!
Benê Dito,
falsário, palpiteiro profissional, que não entende porra nenhuma de arte, mas adora passear na Bienal.
9 de Novembro de 2008 09:33
SERVIÇO
SERVIÇO
SERVIÇO
Na cidade não há verdades, só opiniões. E quantas a respeito desta Bienal em São Paulo!
Ótimo, como situação artística que é, pró-voca, faz falar. E, como gostam de dizer os entendidos, está “grávida de sentidos”. E é polêmica sim. Pois polêmica não é um espetáculo de circo, mas uma saudável controvérsia, típica da vida urbana, que não pretende chegar a nenhuma conclusão definitiva. Ainda mais em se tratando de arte.
É curioso que depois de tudo o que já vimos, estudiosos da arte e palpiteiros profissionais expressem suas opiniões como se fossem verdades, e se posicionam frente à arte contemporânea como galeristas do século XIX.
É claro que toda curadoria tem propósitos e intenções artísticas. Não existe curadoria neutra, nem absoluta, nem perfeita. Há intenções assumidas nesta montagem da Bienal. Intenções artísticas, que se fossem óbvias, não gerariam tão calorosa expressão de opiniões. E não sei se o rei está nu, como disseram, mas que tinha um cara pelado ali, isto tinha.
Como todos nós sabemos, não há evolução em arte, logo, desqualificar algo porque alguém já fez coisa semelhante há cinquenta anos atrás não vale. Já imaginou se a moda pega: “pintura abstrata, de novo, mas o Kandinsky já fez isto aí há mais de cinquenta anos!”
Chocha esta Bienal não é. Se fosse não a teríamos nem notado. Opinião por opinião, tem especialista por aí que acha que ela é safada. Safada, uau! Acho que eu vou adorar! Mas safada por quê? Rola uma suruba? Tipo patati no patata, uma hora por cima outra por baixo?
Uma coisa é verdade: esta Bienal é incômoda, não é mesmo?
Eu, em minha parca e abestada ignorância, não tenho certeza o que ela é. Mas me permito indagar e, generoso que sou, compartilharei com o leitor minhas vagas e oníricas opiniões.
Ao entrar no edifício pensei: “Poxa, eu sempre acho que o melhor da Bienal é a arquitetura deste prédio”. E continuo achando.
Mas, a arquitetura costuma trazer este tipo de surpresa. Basta lembrar que o único objeto artístico exposto na Feira Internacional de Londres de 1851, sobre o qual ainda se fala, é o edifício de metal e vidro que a abrigava: o Palácio de Cristal, na época a obra mais moderna de todas.
Ah, tinha um escorregador ali, logo na entrada, parecia um destes que servem pra tirar entulho de prédio. “Nossa, como está vazio aqui dentro, que alívio!” Coisa rara, as Bienais costumam estar sempre tão entulhadas. Dá até pra pensar aqui dentro. Pra mim, tem coisa demais pra ver nesta cidade: shopping centers cheios de vitrines, avenidas lotadas de carros, condomínios apinhados de apartamentos, blogs demais, e-mails demais. Chega!
“Olha, tem o mundo explicado ali”. Que bom, até que enfim alguém – um tal de Erick Beltrán – conseguiu explicar tudo! E tem também um museuzinho ali num canto que vale por muitos. Do outro lado, tem uma sala com o mesmo filme passando em três telas com pontos de vista diferentes. Obra de uma artista de nome complicado, Eija-Liisa Ahtila. Parece chocho, mas nossa, imaginei que a vaca estava no meio da sala, que viagem! Tive a impressão que a imagem tinha se transformado em uma coisa tridimensional. Bem legal.
Madeira, tipografia, vídeo. Uma Bienal assim simplória. Tanto que dá vontade de fazer arte também. Fiquei afim de fazer coisas, bolar uns trecos, imprimir umas imagens, desenhar, fazer uns filmes. Eu, que costumo sair tão cansado de Bienais e mega-exposições, fiquei surpreso com a minha disposição.
Animado, pensei: “como o Mondrian, eu continuo aguardando a Bienal do vazio total, aquela do nada”. E, neste intermezzo, fiquei a imaginar o sorriso jocoso de Duchamp, descendo de escorregador, depois de voar 14 horas para ver a Bienal de São Paulo.
Cheguei em casa, ainda com esta Bienal “safada” na minha cabeça, olhei pra minha mulher e disse: minha musa, antropofagia, canibalismo, now!
Benê Dito,
falsário, palpiteiro profissional, que não entende porra nenhuma de arte, mas adora passear na Bienal.
9 de Novembro de 2008 09:33
Comentários