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Pobreza no Egito alimenta oposição fundamentalista
Como o Hamas na Palestina, Irmandade Muçulmana cresce com obras sociais

Medo da relação entre os dois grupos dita atitude ambígua do governo em relação a palestinos e expõe feridas no "orgulho árabe"

Bruno Domingos - 26.jan.08/Reuters
O atacante Aboutreika mostra solidariedade a Gaza durante jogo


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

A imagem correu o mundo árabe e incendiou a apaixonada torcida egípcia. Na recente vitória por 3 a 0 sobre o Sudão pela Copa da África, o atacante Mohamed Aboutreika festejou seu gol levantando a camisa e mostrando uma outra com a mensagem: "Simpatize com Gaza". O gesto político, proibido pela Fifa, lhe valeu um cartão amarelo, mas transformou Aboutreika no mais novo herói da causa palestina.
Involuntariamente, ao erguer a camisa e cobrir o rosto, o jogador também produziu um retrato da ambígua relação de seu país com os palestinos nos últimos 30 anos: apoio público irrestrito e olhos fechados.
Enquanto a seleção de Aboutreika avançava rumo à final, que será disputada hoje contra Camarões, milhares de pessoas cruzavam a fronteira de Gaza com o Egito. Pisotearam o muro dinamitado pelo grupo fundamentalista Hamas, que controla o isolado território palestino desde junho, e atingiram o orgulho egípcio. O incidente atualizou um velho dilema e deu dimensão inesperada à luta do governo egípcio contra o fundamentalismo islâmico.
Embora o gesto de Aboutreika tenha sido amplamente aplaudido, a reação dos egípcios à invasão palestina foi de preocupação. Após a invariável acusação a Israel, a maioria revela sentimentos menos nobres. "Esses palestinos estão comendo minha comida!", gritou o taxista Ayman para caminhões que se dirigiam a Gaza, onde alimentos chegaram a ser vendidos dez vezes mais caros.
Sob estado de emergência desde o assassinato do presidente Anuar Sadat por terroristas muçulmanos, em 1981, o Egito vive hoje o calor de uma dicotomia que tem pressão por democracia de um lado e aumento da influência islâmica do outro. Uma história conhecida no mundo muçulmano, quase sempre com desfecho sangrento. Aconteceu na Argélia, nos anos 90, e se repete hoje no Paquistão e na Palestina.
A chegada do Hamas às suas fronteiras foi mais uma má notícia para o ditador Hosni Mubarak. O grupo palestino foi criado sob a inspiração da Irmandade Muçulmana, o mais antigo grupo islâmico do Egito e a maior força de oposição do país. Ilegal, conseguiu eleger um quinto do Parlamento nas eleições de 2005, com candidatos em chapas independentes.

Apelo da religião
A influência política é um reflexo do que ocorre nas ruas. Considerado liberal se comparado a outros países da região, o Egito é cada vez mais islâmico. O aumento do número de mulheres usando véus é só o indício mais visível. "A sociedade egípcia passou por 30 anos de islamização, um período no qual o papel da religião ganhou cada vez mais relevância em todos os setores", diz Sherifa Zuhur, especialista em islamismo e Oriente Médio do Instituto de Estudos Estratégicos da Faculdade de Guerra dos EUA.
O apelo da religião tem forte ligação com as condições de pobreza em que vive a maior parte dos quase 80 milhões de egípcios. Assim como na faixa de Gaza, onde o Hamas implantou o modelo inspirado no mentor egípcio, a rede social da Irmandade Muçulmana explica boa parte de sua penetração.
"Quase todo mundo aqui já foi ajudado pela Irmandade Muçulmana", diz o cozinheiro Hamdy, morador de um conjunto habitacional a dez minutos das pirâmides de Gizé. "Remédios, comida. O que o governo não faz eles fazem."
A ação do governo pode deixar a desejar, mas o Estado é onipresente. Da aventura socialista de Gamal Abdel Nasser nos anos 50, passando pela abertura promovida por Anuar Sadat, na década de 70, e os 26 anos de poder de Mubarak, a mão forte do Estado continua dominante, vitaminada por um aparato de segurança com mais de um milhão de agentes.
A mesma mão com que o Estado reprime seus opositores -a Organização Egípcia de Direitos Humanos contabiliza mais de 600 casos de tortura policial na última década- também é capaz de atos de puro capricho autoritário.
O lendário Café Fishawy, na cidade velha do Cairo, onde o Nobel de Literatura Naguib Mahfouz criou várias de suas obras, encolheu da noite para o dia. "O lugar era três vezes maior antes de ser desapropriado para a construção de um hotel do governo", diz Ahmed El Fishawy, herdeiro do estabelecimento fundado há 258 anos. "Meu avô não agüentou o baque: morreu de desgosto."


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