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Brasil


A agonia do Partido Verde
O PV vive sua maior crise no momento em que o discurso ecológico se fortalece em toda a sociedade

AZIZ FILHO


DUAS VISÕES O presidente do PV, José Luiz Penna (acima), nega irregularidades; Gabeira critica as "práticas burocráticas"
"Meu partido é um coração partido e as ilusões estão todas perdidas." Quando Cazuza e Roberto Frejat lançaram Ideologia, em 1988, a democracia e o Partido Verde, este então com dois anos, engatinhavam no Brasil. O tempo passou, ideologias se esgarçaram e, quando o mundo percebeu que a temperatura estava quente demais, o discurso verde triunfou. Mas o PV, não. Ainda engatinha, em uma crise existencial. Com 14 deputados, acomoda desde o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira (RJ) a José Sarney Filho, da mais longa dinastia política do Maranhão, e o folclórico Edigar Mão Branca (BA), famoso só por usar chapéu de couro no plenário. Virou quase uma legenda de aluguel. Não bastasse isso para desnortear a atrofiada militância, o PV descuidou tanto das aparências que está sob a ameaça de perder, por irregularidades, sua participação no Fundo Partidário.

O Fundo distribui aos partidos dinheiro do contribuinte. Serão R$ 194,3 milhões neste ano, quase o triplo do consumido pelo afamado cartão corporativo em 2007. Os dois sistemas possuem, em comum, a falta de controle para impedir surpresas desagradáveis. Os técnicos do TSE sugerem a rejeição das contas do PV em 2005, o que suspenderia o repasse por um ano e deixaria o partido até sob o risco de perder o registro. Tudo isso às vésperas do II Global Greens, que reunirá partidos verdes de 72 países em São Paulo entre 1º e 4 de maio para tratar do aquecimento global.

O fato de o PV continuar com "práticas superadas", segundo Gabeira, explica o sumiço dos militantes. "Com o debacle do PT, poderíamos encarnar a esperança, mas o PV ficou burocrático, sem agilidade. Precisa se renovar." Ele cobra austeridade da direção e critica o aluguel de uma mansão em Brasília, com piscina e churrasqueira, para ser a sede. Em 2005, o PV alugou um avião por R$ 100 mil para levar seu conselho político a Belém. "Foi uma aventura turística", lembra o professor Eduardo Coelho, ex-conselheiro, que está sendo expulso por combater os métodos do presidente, o paulista José Luiz Penna, de 62 anos, há nove no cargo.

Penna aceita o desafio de Gabeira para convocar um congresso de reformulação programática, mas espera a aprovação das contas para se livrar das suspeitas. "As pessoas que não vivem o dia-a-dia do partido não sabem, mas somos austeros", diz Penna. A sede foi alugada por R$ 3.900 - "menos do que um escritório" - e o avião, segundo Penna, "foi mais barato do que seriam as passagens" somadas. Penna registrou em seu nome um Palio 1998 doado por um militante ao PV. Segundo ele, "o partido não tinha dinheiro para a manutenção". As trapalhadas também lembram a canção de 1988: "Os meus sonhos foram todos vendidos, tão barato que eu nem acredito. Ah, eu nem acredito."

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